domingo, 12 de julho de 2009

POSTO DE SAÚDE TAMBÉM É LUGAR DE HOMEM JOVEM




Jovem, sexo masculino, baixa escolaridade. Segundo as estatísticas, este é o perfil da população mais vulnerável à violência na cidade do Rio de Janeiro. Aproximar os homens jovens dos serviços de saúde e dar maior visibilidade às suas questões é um passo importante para transformar essa realidade. Com esta certeza, o projeto Homens Jovens e Saúde* incentiva a formação de grupos de reflexão em diferentes unidades de saúde do município, capacitando profissionais e jovens para isso.
O psicólogo e educador Luiz dos Santos Costa foi um dos profissionais envolvidos nesta iniciativa que atuou como facilitador dos grupos de jovens em Postos de Saúde da Maré. Conversando sobre temas como relação familiar, paternidade, sexo, saúde, violência, responsabilidade e trabalho, Luiz acredita que dessa forma é possível operar mudanças significativas nos rapazes, aproximando-os do cuidado consigo e com o outro. “Esse é um projeto que já provou sua eficácia. Os meninos que participaram dos grupos têm hoje um nível de argumentação excelente”, constata.
A Assessora de Promoção em Saúde da SMS, Viviane Castello Branco, observa que os serviços de saúde devem estar atentos para perceber formas interessantes de conquistar o homem para a saúde. Um exemplo de estratégia bem sucedida, segundo ela, é o Adolescentro, que, além dos grupos de reflexão para os rapazes, busca realizar atividades culturais, esportivas e de lazer atraentes e estabelecer parcerias com ONGs, escolas e centros esportivos da comunidade. Outro exemplo interessante é o profissional de porta de entrada do PS Masao Goto, Alessandro Andrade, que aborda de maneira hábil e eficiente os rapazes que rondam a porta do posto sem coragem para entrar.

Visibilidade maior para o rapaz
Para Viviane, o projeto Homens Jovens e Saúde também conseguiu chamar a atenção dos serviços para aquele rapaz que vai ao posto acompanhando sua parceira para fazer o teste de gravidez, pré-natal ou na consulta com o pediatra do filho. “O homem, muitas vezes, se torna invisível para o profissional, que deveria estender um tapete vermelho para ele.
Cada unidade deve aproveitar essas oportunidades para ouvir suas necessidades, fortalecer vínculos e oferecer atividades do posto, como o grupo de homens jovens, o Vista essa Camisinha ou o grupo de pré-natal”, diz ela. “O aprendizado mais importante do projeto foi percebermos a necessidade de incorporar a discussão sobre homens, masculinidades e saúde em todas as ações educativas realizadas”, afirma Viviane, ressaltando a necessidade de maior investimento na capacitação dos profissionais.
O bom resultado alcançado pelo projeto Homens Jovens e Saúde já está permitindo sua difusão para outras iniciativas, como a capacitação de agentes de saúde da área de Bangu.
Outro motivo para comemorar é o compromisso assumido pela agenda social do Pam 2007 em implementar o projeto nas áreas de menor IDH da cidade.


Fala jovem
“Eu achava que posto de saúde não adiantava. Agora que participei de palestras no Adolescentro, encontrei um apoio melhor. Não vou ter mais vergonha de falar sobre meus problemas”.
Edgleiso
“As unidades de saúde deveriam ter mais espaço para o trabalho voluntário dos jovens e para capacitações”.
Fernando
“A gente não sabe nem qual médico deve procurar no posto.
Existe ginecologista de homem?
Estas são barreiras que atrapalham.
Também acho que deveriam ter mais palestras. Para os pais também”.
Hudson
“O Adolescentro dá uma opção diferente para o jovem da comunidade. Muitos têm problemas e não têm com quem se abrir. No grupo de homens jovens, todo mundo pode ser sincero porque existe muito respeito. É uma conversa de jovem para jovem.”
Júnior

Vista essa camisinha
Distribuição de preservativos é a ponta de iniciativa
muito mais abrangente

Estimular a atenção do adolescente para o cuidado integral com a saúde, através da promoção de vínculos entre jovens, profissionais de saúde e de educação.
Essa é a meta do projeto Vista essa Camisinha, desenvolvido pelo Programa de Saúde do Adolescente (Prosad) da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS – RJ).
Para atingir seu objetivo, o Vista essa Camisinha utiliza diversas estratégias. A primeira delas é a distribuição de camisinhas de 49 e 52 mm, através das unidades de saúde da SMS e de seus parceiros.
Luciana Phebo, coordenadora do projeto, explica: “Disponibilizar camisinhas é uma maneira de atrair o jovem a freqüentar a unidade e estimular seu cuidado com a saúde. Mas o projeto vai muito além. A idéia é que o adolescente reconheça a unidade de saúde como um espaço seu, onde se sinta valorizado e pertencente a um grupo”.

A saúde pensada de forma integral
Mais do que informações sobre como usar o preservativo, sobre sexo, gravidez e DSTs, o Vista essa Camisinha estimula a formação de grupos de discussão nas unidades de saúde. A intenção é levar jovens e profissionais de saúde a refletir sobre saúde de uma forma mais ampla: saúde emocional e social, direitos e responsabilidades, autonomia e auto-estima.
Para Marly Cruz, técnica do Programa de DST/Aids da SMS, que realiza uma pesquisa sobre DST/Aids com jovens nas unidades de saúde do município do Rio de Janeiro, quanto maior a autonomia e a auto-estima, maiores serão os cuidados com a saúde. Ela ressalta, no entanto, que enfrentar desafios é uma característica marcante dos jovens, e aí pode estar sua vulnerabilidade. “O risco possui uma conotação atraente para o jovem. Além disso, há o sentimento de onipotência e invulnerabilidade, comuns nessa faixa etária”, diz Marly.
Nas reuniões, os jovens têm a oportunidade de pensar sobre suas escolhas, colocando na balança os riscos necessários, que promovem o crescimento, e os riscos negativos. Entretanto, a distribuição de preservativos não deve estar obrigatoriamente vinculada a uma atividade educativa, como lembra Luciana Phebo. “Isso pode acabar afastando o jovem da unidade de saúde, prejudicando a finalidade do projeto”, diz ela.
Para garantir o sucesso do Vista essa Camisinha, é fundamental que os profissionais tenham disponibilidade para ouvir os jovens, aproveitando as oportunidades de diálogo, adequando as atividades às suas necessidades e respeitando o sigilo e a confidencialidade.

A parceria entre saúde e educação
“Saúde e educação se ocupam do mesmo jovem”, observa Luciana Phebo.
“Daí a importância de estabelecer uma parceria efetiva entre essas duas áreas”. A promoção de encontros entre profissionais de saúde e educação em fóruns e seminários é uma das ações do Prosad, que visa fortalecer essa parceria, favorecendo o acesso dos alunos às unidades de saúde.
Além disso, em qualquer momento do ano letivo, as escolas podem solicitar ao posto de saúde mais próximo preservativos, material de apoio e um profissional capacitado para trabalhar com seus alunos temas como sexualidade, prevenção de DSTs e gravidez.

saber+ Projeto Vista Essa Camisinha
www.saude.rio.rj.gov.br/adolescente


Como chegar mais perto dos rapazes
> Sensibilizar os profissionais da unidade para que compreendam as necessidades dos rapazes
> Estimular os rapazes a participarem do planejamento das atividades
> Oferecer um espaço para que os jovens possam se reunir para a discussão de temas e troca de experiências
> Facilitar o atendimento do jovem, diminuindo a burocracia, respeitando
o sigilo e oferecendo alternativas de horários que sejam compatíveis com a escola e o trabalho
> Buscar parcerias com outras instituições que trabalhem com jovens
> Desenvolver atividades que atraiam os jovens, como jogos, gincanas, exibição de filmes, passeios.