segunda-feira, 6 de julho de 2009

SAÚDE SEXUAL-HISTÓRIA E TRATAMENTO DA SÍFILIS


História e tratamento da sífilis



Referências bíblicas, encontradas no Êxodo, apontam que - diante da recusa do faraó de livrar os hebreus da servidão - Jeová enviou uma peste que acometeu todo o gado e os homens, provocando neles tumores em forma de úlceras.

Lepra ("tzaraat", em hebraico) era, nessa época, sinônimo de conduta pecaminosa, já que a transmissão se dá por contato pessoa-pessoa, incluindo o contato sexual.

Outra justificativa para considerar as doenças ou as pestes como punição divina era o seu caráter desconhecido e misterioso. Cabia aos antigos sacerdotes identificar e tratar esses casos, isolando pessoas atingidas pela doença do contato com as outras saudáveis. Esta prática foi mantida pelo Cristianismo.

Ao longo da história, essas mesmas doenças passaram a ser entendidas como originárias de "miasmas" ou "emanações" de regiões insalubres, como os pântanos.

No final do século XV, uma nova concepção a respeito dessas doenças começou a se formar. Com a liberalização dos costumes, o advento da modernidade e as guerras, surgiu também uma epidemia de sífilis que varreu a Europa.

Essa epidemia passou a ser considerada como "doença do inimigo". Para os franceses a sífilis era o mal napolitano (dos italianos). E para os italianos, o mal dos franceses. Já os poloneses consideravam a sífilis como "a doença dos alemães"; os russos tinham medo da "doença dos poloneses".

O termo sífilis originou-se de um poema escrito em 1530 pelo médico e poeta Girolamo Fracastoro. Ele narrou a história de Syphilus, um pastor que não queria fazer sacrifícios ao deus Sol e foi punido com este castigo. O próprio Fracastoro levantou a hipótese de que a doença fosse transmitida por partículas pequeninas que chamou de "seminaria contagium" ou "virus". Nesta época, esta idéia não foi levada em consideração e, apenas no final do século XIX, com Pasteur, passou a ter crédito.

Hoje sabe-se que a sífilis é uma doença sexualmente transmissível (DST), causada por um microorganismo (bactéria) chamado Treponema pallidum. A apresentação dos sinais e sintomas dessa moléstia é muito variável e complexa, "imitando" uma série de outras doenças, o que confunde, muitas vezes, os médicos. Quando não tratada, evolui para formas mais graves, podendo comprometer o sistema nervoso, o aparelho cardiovascular, o aparelho respiratório e o aparelho gastrointestinal. A doença pode ser transmitida para o feto, durante a gravidez, e provocar nele malformações.

Devido a esforços intensos dos serviços de saúde pública de vários países, houve uma redução considerável do número de casos de infecções por sífilis, durante e após a Segunda Guerra Mundial. O impacto positivo da introdução da penicilina, diminuiu drasticamente a proporção de indivíduos que desenvolvem as formas mais graves da sífilis. O tratamento é bastante simples e, na maioria das vezes, requer dose única de penicilina. Outros antibióticos poderão ser utilizados, em indivíduos que têm alergia à ela.

Não obstante o tratamento nas fases iniciais da doença por penicilina ser muito eficaz, métodos de prevenção devem ser implementados, pois adquirir sífilis expõe as pessoas a um risco aumentado para outras DSTs, inclusive a AIDS. As lesões genitais causadas pela sífilis tornam-se porta de entrada para os outros microorganismos causadores de DSTs e AIDS.

Hoje sabemos que a sífilis não se trata de castigo divino ou "doença dos inimigos de guerra", mas resulta de sexo feito sem responsabilidade e sem prevenção. Conhecer a forma de transmissão das DSTs, discutir sobre sexo com o(a) parceiro(a) e usar preservativos ainda é o "melhor remédio".

Fonte(s):


• (1) Folha de São Paulo. Artigo de Moacyr Scliar, 11/11/2001, Caderno Mais, p. 14-15.
• (2) Sparling, PF. Doenças Sexualmente Transmitidas. In: Wyngaarden, J. B. ; Smith, L. H. ; Bennett, J. C. Tratado de Medicina Interna. 19ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1993. vol. 2, p. 1798-1800.
• (3) Jacobs, RA. Infectious Diseases: Spirochetal. In: Tierney, L. M. ; McPhee, S. J. ; Papadakis, M. A. (Eds). CURRENT Medical Diagnosis & Treatment. 35ª. ed., USA: Prentice-Hall International, Inc.; 1996. p. 1227-35.